domingo, 18 de janeiro de 2009

Sobre Caramujos e Caracóis.

Onze horas da noite. Os dois dentro do carro, parados, jogando conversa fora. Como sempre, sem assunto definido.

B: Sabe aquelas histórias em que alguém fala alguma coisa para a qual não damos muita importância, mas depois a pessoa morre e ficamos o resto da vida nos perguntando qual o sentido daquilo?
Ele: Mais ou menos.
B: Pois então. Meu vô me chamava de cabeça-de-"stiusi". Nunca dei bola, até que um dia ele morreu, e eu até hoje me pergunto o significado disso.
Ele: Mas o que é "stiusi"?
B: Caramujo. Descobri isso recentemente, depois de anos de agonia por não saber o que era.
Ele: Mas "cabeça-de-caramujo" seria exatamente o quê?
B: Pois é. Agora a agonia deve-se a não saber exatamente o que ele QUIS dizer com isso. Sei lá, pode ser tantas coisas. Talvez por que o caramujo é duro, ele estaria me chamando de cabeça-dura... Ou porque a meleca de dentro é mole. Aí, me chamando de cabeça-oca. Vai saber.
Ele: Cabeça-de caracol... (risos). Ei, qual a diferença entre caramujo e caracol?
B: Não sei. Um tem o casquinho enrolado e o outro liso?
Ele: Eu não sei, por isso perguntei. Será que caramujo tem por aí, e caracol no mar?
B: Caracol no mar?!?
Ele: É... Não? Não tem caracol no mar?
B: Eu sei lá. Vai ver a diferença entre eles é a mesma entre semáforo, sinaleira e farol. Ou entre aipim...
Ele: e mandioca...
B: ...e macaxeira.
Ele: Entre bergamota e tangerina.
B: Entre bergamota, tangerina e mixirica.
Ele: Mas será que é só isso?
B: Eu não sei. Mas esse diálogo sem pé nem cabeça daria um texto.
Ele: Tu vai escrever ele?
B: Não sei se confio na minha memória... E tem mais um problema.
Ele: Qual?
B: Aquela questão dos finais, lembra? Um texto tem que ter um final definitivo.
Ele: Tem que ter?
B: Tem. Senão fica aquele clima de "ah, acabou do nada".
Ele: E como seria um final definitivo pra esta conversa?
B: Não sei. Mas se isto fosse um texto, eu acabaria ele bem aqui.